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CONHEÇA OS SEUS DIREITOS

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Artigo 5º da Constituição Federal Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva; VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei; IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A Contemporaneidade na Pregação Pós-Apostólica



Segundo G. Burt, o período que seguiu o dos pais apostólicos foi assinalado por uma decadência. Ele afirma que o material homilético dos três séculos seguintes ao apostólico, é muito escasso. Mesmo assim cita algumas instruções de Clemente de Roma, Ignácio e Dionísio, no primeiro século, Aniceto no segundo e Cipriano, no terceiro.
L. M. Perry e C. Sell referem-se a Clemente de Roma (30-100 AD) como um pregador de objetivos éticos e que conseguia, através de suas mensagens, propiciar "consolo para as pessoas que atravessavam tribulação". Outro pregador deste período destacado por estes autores é Tertuliano ( 150-220 AD). Este teria sido um pregador exímio através de mensagens acerca da paciência e da penitência.
Um período de ascensão da oratória na Igreja iniciou-se no quarto século, quando a partir de então floresceram Ambrósio, Basílio, Gregório, Crisóstomo e Agostinho, os mais célebres pregadores da Igreja Antiga. Outros pegadores dos primeiros séculos, dignos de serem citados, são Orígenes, Lactâncio, Jerônimo e Cirilo de Alexandria, dentre outros, dos quais temos somente discursos e homilias. Destes pregadores, conforme Burt, destacam-se Crisóstomo e Agostinho, que trouxeram relevante contribuição à literatura Homilética.
A obra Peri Hierosynes, ou "De Sacerdócio", de Crisóstomo, escrita no início de seu ministério, expressa, ainda que indiretamente, alguns preceitos fundamentais para a Homilética da época:
1. O clérico - ou ministro - deve ser prudente e douto; 
2. Deve possuir alocução fácil; 
3. Deve conhecer as controvérsias entre gregos e judeus; 
4. Deve ser hábil na dialéctica (como Paulo, não menos grande na arte de falar do que nos escritos e ações); 
5. Há necessidade de um longo e sério preparo para o ministério; 
6. É indispensável o desdém pelos aplausos humanos; 
7. Cada sermão deve ser um meio de glorificar a Deus.
Parece-nos que a capacidade de flexibilizar a mensagem a ponto de torná-la adequada ao contexto dos ouvintes ainda que não esteja explicitamente anunciada acima, pode ser compreendida nas entrelinhas destas afirmações. Entretanto, parece óbvio que a maior preocupação era para com a oratória e a dialéctica. Ao referir-se a este mesmo pregador o Dr. Shepard ressalta que ele foi proeminente entre os principais pregadores de todos os tempos. Refere-se à sua instrução na ciência do direito, do seu intelecto extraordinário e de seu despontamento como mestre no discurso argumentativo e da retórica. Ainda sobre Crisóstomo, Shepard destaca que "conhecia a natureza humana e nos seus discursos jamais se esqueceu de que os seus argumentos eram para convencer o povo". Para este autor os sermões de Crisóstomo refletem de modo vivo as condições do seu tempo. Outra característica deste célebre pregador era sua simplicidade, sua clara preocupação em falar ao povo de sua época. Shepard enaltece a capacidade de Crisóstomo de interpretar a Palavra e de aplicá-la às necessidades do povo de sua época.
Na verdade, João de Constantinopla (c. 347-407), que era natural de Antioquia da Síria e filho de mãe cristã, foi bispo de Constantinopla. Quando ocupou este tão importante cargo seu primeiro objetivo foi reformar a vida do clero. Justo Gonzales relata que alguns sacerdotes que diziam ser celibatários tinham em suas casas mulheres que chamavam de irmãs espirituais, e isto escandalizava a muitos. Além disso, outros cléricos haviam se tornado ricos e viviam em grande luxo e o trabalho pastoral da Igreja era negligenciado.
As finanças foram submetidas a um sistema de controle detalhado. Os objetos de luxo que havia no palácio do bispo foram vendidos para dar de comer aos pobres.   (...) É desnecessário mencionar que isto tudo, apesar de lhe conquistar o respeito de muitos, também lhe granjeou o ódio de outros.
O empenho do bispo de Constantinopla não limitou-se apenas ao clero. Seus sermões exortavam os leigos a que levassem uma vida nos moldes dos princípios cristãos:
Este freio de ouro na boca do teu cavalo, este aro de ouro no braço do teu escravo, estes adornos dourados em teus sapatos, são sinal de que estás roubando o órfão e matando de fome a viúva. Depois de morreres, quem passar pela tua casa dirá: "Com quantas lágrimas ele construiu este palácio? Quantos órfãos se viram nus, quantas viúvas injuriadas, quantos operários receberam salários injustos?" Assim, nem mesmo a morte te livrará dos teus acusadores.
Eis aí um exemplo de pregador contextualizado ao seu povo. Ele recebeu o título de "Crisóstomo" ( língua de ouro) cerca de 100 anos após a sua morte, face ao respeito que conquistou com seus sermões, tratados e cartas publicados. A história nos conta que Crisóstomo morreu no exílio, nas montanhas da Ásia Menor.
O outro grande pregador destacado neste período foi Agostinho de Hipona (354-430).Tido por muitos como o maior teólogo da antiguidade, converteu-se em Milão em meio a uma exortação ouvida por acaso num jardim, tirada de Romanos 13:13-14; foi batizado por Ambrósio em 387.
Antes de sua conversão fora mestre de retórica; por isso em suas obras podem ser encontradas muitas instruções quanto à oratória, especialmente na obra De Proferendo, um dos quatro livros que constituem a sua Doctrina Christiana. Dela podemos retirar o conceito de "ótimo pregador" de Agostinho: "É aquele de quem a congregação ouve a Verdade, compreendendo o que ouve". Para Agostinho a vitória do pregador consistia em levar o ouvinte a agir. A pregação atraente devia ser temperada de sã doutrina e gravidade.
Agostinho foi ordenado bispo em Hipona, no norte da África, em 395. Dentre seus escritos merece atenção especial as suas Confissões, uma autobiografia onde o conta a Deus, em oração, suas lutas e peregrinação. É tida como uma obra única em seu gênero na antiguidade. Outra obra a destacar é A Cidade de Deus, escrita sob a motivação da queda da cidade de Roma, em 410, e tida como a maior de todas as suas obras literárias. Nesta, Agostinho responde àqueles que afirmavam que Roma tivesse caído porque se tinha entregue ao cristianismo e abandonado os velhos deuses que a tinham feito grande.
Dennis F.Kinlaw enaltece grandemente tanto a obra literária como a pregação de Agostinho. Para ele o bispo de Hipona exemplifica o dever de todo pregador em ser um intérprete de sua época. Este autor sugere a leitura do sermão pregado por Agostinho no primeiro domingo após o recebimento da notícia de que Roma caíra nas mãos dos invasores godos, liderados por Alarico, em 410, como um digno exemplo de sermão contextualizado. Kinlaw define Agostinho como um homem de "visão clara de onde se encontrava a humanidade na sua peregrinação para Deus".
No intento de comprovarmos a preocupação com a mensagem contextualizada por parte dos pregadores na história da pregação, reconhecemos que após o ápice alcançado com Crisóstomo e Agostinho, houveram pelo menos sete séculos de obscurantismo. O Dr. Ruben Zorzoli, professor do Seminário Internacional de Buenos Aires, decreve este período como tendo sido marcado "por completa escuridão e declínio".
Segundo Zórzoli, alguns fatores que contribuiram para este declínio foram a corrupção do clero, o crescimento das formas litúrgicas (que substituíram o lugar da pregação), a elevação da função sacerdotal sobre a do pregador, as controvérsias doutrinais, e o declínio no conteúdo da pregação pelo uso extremo da alegorização bíblica.
O Dr. G. Burt comenta que nesta época utilizava-se a postilla, uma brevíssima paráfrase do texto bíblico, e que apenas alguns privilegiados tinham direito a assistí-la. Estes privilegiados eram chamados akpoumenoi na Igreja grega eaudientes na latina.
Nos séculos XII e XIII houve uma recuperação no prestígio da pregação. Zorzoli ressalta como motivos desta mudança as reformas na vida do clero, instituídas pelo papa Gregório VII; o avivamento intelectual resultante do escolasticismo e que elevou o conteúdo da pregação; a propagação de seitas heréticas que faziam uso da pregação - o que constrangeu a Igreja Católica a reagir; as cruzadas, que se utilizavam da pregação na mobilização das massas populares, e o uso crescente do idioma popular na pregação.
O mesmo autor assevera que, apesar desta recuperação, este período da história da pregação ainda foi marcado pelos erros, dentre os quais destaca o uso do material extra bíblico como se fosse bíblico, a interpretação e aplicação equivocados, o uso extremo da alegoria e a frequente falta de texto bíblico nas mensagens.
Com o surgimento das ordens missionárias dos Franciscanos e Dominicanos, no século XIII, a pregação ganha mais notoriedade.
A preocupação de falar ao povo, de contextualizar-se à realidade dos ouvintes, parece existir numa obra de Guibert de Nogent, abade francês que morreu em 1124. Dentre os seus preceitos homiléticos destacam-se os seguintes: o pregador deve exercitar o seu talento o mais frequentemente possível, nunca deve assumir o púlpito sem ter orado, deve ser breve, dar preferência a assuntos práticos e não dogmáticos. Conclui que "poucas coisas ouvidas e guardadas valem mais que muitas que passem pela cabeça do auditório, sem penetrar nem a inteligência, nem a consciência."
Perry e Sell destacam deste período alguns pregadores. Um deles é o alemão Berthold von Regensburg (1220-1272) que, com seus sermões práticos "atacou os pecados de todas as classes na época de um grande interregno na Alemanha". Acrescentam ainda que Regensburg buscava sempre atingir as necessidades do povo. Destacam também o inglês John Wycliffe (1329-1384), igualmente realçado como um pregador "prático, que se dedicou ao cuidado das almas".
Já nos séculos XIV e XV houve um novo declínio na ênfase da pregação, quando esta deixou de priorizar a população, dando lugar ao intelectualismo árido do escolasticismo. Além disso, contribuíram para isto o período de estabilidade que passava a Igreja Católica, sem as ameaças hereges. Um novo despertamento viria com o século XVI e a Reforma.

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